Cibercultura
Se não fosse um cientista social,
Pierre Lévy poderia ser considerado um “Nostradamus” dos
tempos modernos, pois conseguiu descrever e prever com a antecedência de pelo
menos duas décadas o que estamos a viver atualmente em nossa sociedade. Na
verdade, ele nada mais é que um entusiasta das tecnologias como um todo. Em
seus estudos conseguiu descrever (e até prever) a alteração do comportamento da
sociedade por influência da evolução das tecnologias.
Em seu livro Cibercultura, ele apresenta de forma
fácil as transformações sociais ao longo da história, explicando de forma
lúdica tudo de bom e mau que essas modificações acarretam na sociedade.
Mas então o que é a Cibercultura? Nada mais é que “Um
conjunto de técnicas, práticas, atitudes, modos de pensamentos e valores que
alimentam o crescimento do ciberespaço.” (Levy,1999, p.28).
Naquela altura Levy (1999) definiu que o ciberespaço como
um meio de comunicação que surgiu da intercomunicação entre computadores, apesar
de que também já previa a evolução do ciberespaço para o que vivemos hoje. Atualmente
arrisco a dizer que o ciberespaço ultrapassou a barreira dos computadores para juntar-se
aos tablets, telemóveis, consolas de jogos, aparelhos de televisão, robôs de um
modo geral (desde os utilizados na indústria, até os eletrodomésticos que
utilizamos em casa que são ligados em rede e comandados através de aplicações
nos telemóveis), automóveis com os seus “computadores de bordo” e muitos que já
não precisam de motoristas, drones, entre tantos outros equipamentos que
fazem parte da nossa vida cotidiana.
O autor já previa essa extensão do ciberespaço, pois
considera que este ambiente virtual encoraja a amplitude geográfica dos
relacionamentos como um todo e acelera uma virtualização geral da economia e da
sociedade. “O virtual existe sem estar presente… é uma fonte indefinida de
atualizações”. (Levy,1999, p 48-49).
Assim, podemos ter acesso à distância de tudo o que o
ciberespaço permitir. Desde coisas mais básicas fazem parte do nosso cotidiano,
como simplesmente encontrar parentes distantes ou amigos que não vemos há muito
tempo, viajar por lugares longínquos através de softwares como o Google Earth, participar
de conferências internacionais sem sair de casa e utilizando apenas um smartphone.
Ele permite que estejamos perto, mesmo sem estar fisicamente presente.
Os alicerces iniciais do ciberespaço, que ele
considera não ser uma novidade da internet, mas que já existe desde a
utilização pública dos correios na Europa a partir do século XVII. Com base nos
conceitos de Levy (1999) podemos, portanto, dizer que o ciberespaço não se
trata da infraestrutura física, mas como utilizamos essa infraestrutura.
Assim, a cibercultura surgiu com o crescimento de três
alicerces do ciberespaço: a interconexão, comunidades virtuais e inteligência
coletiva.
Por interconexão, Levy (1999) define que é quando tudo
passa a estar interligado e interativo. Quando chegamos ao ponto de que essa conexão
já faz parte do espaço envolvente.
Já sobre as comunidades
virtuais, o autor referencia como “…contruída por afinidades, projetos mútuos,
troca, independente das proximidades geográficas…as comunidades virtuais
exploram novas forma de opinião pública” (Levy, 1999, p.128-129). Essa
proximidade cria uma forma de conexão entre as diversas comunidades, permitindo
uma colaboração coletiva e uma forma de mutação cultural, desenvolvendo aquilo
que o autor denomina como Inteligência Coletiva, que Levy (1999) considera um
dos principais motores da cibercultura.
“Quanto mais os
processos de inteligência coletiva se desenvolvem, melhor é a apropriação pelos
indivíduos ou grupos das alterações técnicas e menores são os efeitos da exclusão
ou desnutrição humana, resultantes da aceleração do movimento tecno-social.”
(Levy, 1999, p.29)
Deixo aqui um vídeo com uma explicação fácil e breve
sobre a Cibercultura:
Abaixo temos alguns exemplos onde atualmente a cibercultura está inserida:
Bases de Dados Internacionais
A Interpol nada mais é uma organização internacional de polícia criminal composta por 195 países membros que alimentam constantemente sua base de dados e fazem parte de uma entreajuda comunitária. A autodefinição de Interpol está descrita no próprio site como: “… permitimos que eles compartilhem e acedam dados sobre crimes e criminosos, e oferecemos uma gama de suporte técnico e operacional”.
Artes em Geral
Atualmente não precisamos sair de casa para ter acesso
a cultura de qualquer país do mundo. Desde plataformas de músicas, de filmes/séries,
temos uma novidade já desde há alguns anos: os museus interativos. Neles
podemos entrar, ver as obras e inclusive utilizar realidade virtual para sentir
que estamos inseridos no contexto dos museus. Um exemplo é o Museu Louvre
que promove passeios virtuais o “Louvre em casa” e atividades que podemos fazer
através de periféricos, mesmo estando a milhares de quilómetros de distância do
Museu.
A Simulação
Levy (1999) acredita que a simulação ocupa um lugar
central na cibercultura, pois amplificam a imaginação individual. Por isso
mesmo afirma que “As técnicas de simulação utilizam imagens interativas, não substituem
os raciocínios humanos, mas prolongam e transformam a capacidade de imaginação
e pensamento.” (Levy, 1999, p. 165)
Exemplos mais atuais são desde os jogos
com realidade virtual, os programas que simulam guerras, softwares
de arquitetura e engenharia, entre outros.
Conclusão
Como falei acima, Pierre Lévy é um visionário e previu
através de suas pesquisas como viveríamos na sociedade atual. Uma vida
completamente imersa em redes de todo os tipos, desde as redes sociais mais
simples, até situações mais complexas. Estamos cada vez mais em um mundo
completamente inserido no ciberespaço que o autor bem descreveu. Fala-se muito
do que é mau dessa realidade que acreditamos ser nova, mas que já faz parte da
nossa vida há décadas.
Então porque
temos a sensação de que cada dia tudo muda? Porque a cada segundo o ciberespaço
é alimentado com novas informações, novas imagens, novas situações. Nem todas informações
são lícitas, nem tudo que está “na rede” é bom porque ela aceita tudo, como diz
Levy.
A mesma pessoa que tem medo e coloca muitas fechaduras
nas portas de casa para não ser assaltada, é a aquela que expõe-se nas redes
sociais sem medidas. Ostenta o que não tem, cria uma realidade falsa e fica
muito mais vulnerável, pelo simples fato de que a rede é mundial e nunca
sabemos o que (ou quem) está do outro lado.
Entretanto a facilidade da comunicação está a fazer
com que a população tenha maior possibilidades de instruir-se, de conhecer novas
realidades, de conectar-se. De certa forma cria uma inclusão digital e
cultural. Precisamos, como sociedade, instruir e incluir. Para tentar ao máximo
evitar com que ferramentas que podem trazer comunicação de qualidade, acabem
por criar uma geração de analfabetos digitais, pessoas sem rosto e sem
capacidade crítica que escondem-se através de um numero de IP qualquer.
Bibliografia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_L%C3%A9vy
Lévy, P. (1999) Cibercultura. São Paulo: Editora 34.
Nostradamus –
Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Google Earth:
earth.google.com/static/multi-threaded/versions/10.41.2.1/index.html?
Professor Krauss:
https://www.youtube.com/watch?v=ZYg70y6p3v8&t=67s
Interpol:
INTERPOL – Cinco ações para um mundo mais seguro
Museu Louvre:
Online tours - Enjoy the Louvre at home!
Jogos de realidade virtual: saiba como eles funcionam! - Blog Ingram (ingrammicro.com.br)
O MAIS REALISTA SIMULADOR DE GUERRA MUNDO ABERTO! SQUAD v19 - YouTube
Realidade Virtual na Arquitetura - Blog totalCAD
Góis, V. (2018) O que é
isso cibercultura?:
https://medium.com/dgtl-mente/o-que-%C3%A9-isso-cibercultura-aef405e7d6b2
Comentários
Enviar um comentário