Tecnologia e Educação: até onde podemos chegar?
Introdução
Concordamos com Nelson Mandela quando dizia que "A
educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo”, pois
ela é um processo fundamental para o desenvolvimento individual e social. É
através dela que adquirimos os conhecimentos, as habilidades e as competências
necessárias para viver em sociedade e nos tornarmos pessoas ativas e
responsáveis.
Grant (2023) afirma que as novas tecnologias,
como a inteligência artificial (IA), têm o potencial de revolucionar a
educação, tornando-a mais personalizada, eficiente e eficaz. A IA pode ser
usada para personalizar o conteúdo e o ritmo de ensino, fornecer feedback em
tempo real e identificar as necessidades individuais dos alunos. Isso pode
levar a uma aprendizagem mais significativa e eficaz para todos os alunos.
Entretanto, observamos que, com a introdução das novas
tecnologias na educação, também aparecem novos desafios e problemas tais como a
exclusão digital, a necessidade de formação de docentes, não só na questão da
utilização e colocação em prática no dia-a-dia, mas também, na questão da ética
do uso da IA.
Fomos desafiadas, na disciplina de Educação e
Sociedade, a ver cinco vídeos propostos pelo professor sobre diversos assuntos
envolvendo tecnologia e educação.
Escolhemos três para analisar, mas quisemos fazer um pouco mais e
compará-los. É o que descreveremos a seguir.
Análise dos Vídeos
Podemos dizer que os três vídeos analisados neste
trabalho abordam diferentes aspetos do impacto das novas tecnologias e da IA na
educação.
O primeiro vídeo escolhido, apresenta uma visão
positiva da IA. "Educação 4.0". Essa nomenclatura aponta para a quarta
revolução industrial na educação, onde as tecnologias avançadas desempenham um
papel crucial na transformação da forma como ensinamos e aprendemos.
O conceito está alinhado com o amplo quadro da
Indústria 4.0, que enfatiza a integração de tecnologias digitais, automação,
inteligência artificial e tomada de decisões baseada em dados em diversas
indústrias. Assim, o uso de tecnologias avançadas, como inteligência artificial
(IA), realidade virtual (RV), realidade aumentada (RA) no processo educacional
vieram aprimorar a experiência do aluno, proporcionando uma educação
personalizada. As tecnologias avançadas podem analisar o desempenho individual
do aluno e personalizar o conteúdo educacional para atender às necessidades
específicas e estilos de cada um.
A educação torna-se assim interconectada à
escala global. Ferramentas e plataformas digitais possibilitam a colaboração e
a comunicação entre alunos, educadores e instituições em todo o mundo,
facilitando um ambiente diversificado e interconectado. Assim, a educação 4.0
foca-se em equipar os alunos com habilidades e ferramentas para o mercado de
trabalho, não apenas as habilidades técnicas, mas também, o pensamento critico,
criatividade e adaptabilidade.
Verificamos no vídeo as tradicionais salas de
aula. Estas foram substituídas por ambientes mais flexíveis, online e híbridos,
pois assim a tecnologia permite ambientes educacionais mais acessíveis e
promove a ideia de aprendiz ao longo da vida, verificando-se que a aprendizagem
é um processo contínuo. A tecnologia veio facilitar o acesso a recursos e
oportunidades educacionais que, bem aproveitados, são recursos para a vida,
pois encontramo-nos num cenário global em constante mudança.
"AI AND THE
FUTURE OF EDUCATION (Full Documentary)" é o segundo vídeo e também
apresenta uma visão positiva do potencial da IA na educação, já que é
possível observar o ótimo potencial da inteligência artificial para auxiliar no
processo educativo.
Especialistas
de várias áreas exploram os benefícios e desafios do uso da IA na educação como
um todo. Conforme a análise obtida no documentário, a IA pode
ser usada para personalizar a aprendizagem, fornecendo aos estudantes planos de
ensino adaptados às suas necessidades, colocando o foco do processo educativo
nos educandos.
Quando
existe um feedback em tempo real, é possível identificar áreas em que cada um
tem mais dificuldades, para que se consiga perceber onde devem melhorar. Além
disso, a IA pode adaptar-se, ao ajustar o nível de dificuldade do que se pretende
ensinar, com base no desempenho de cada um.
Há, no
vídeo, uma preocupação com os desafios do uso da IA na educação. Como por
exemplo: Como e quando devemos utilizá-la?
É viável financeiramente para todos os tipos de escolas, desde as
públicas até as privadas?
Sobre isso, os especialistas entrevistados afirmam:
"Os
professores precisarão ser treinados sobre como usar a IA de forma eficaz na
sala de aula." - Cedric Sauviat, diretor de tecnologia da
FutureLearn
"O
custo de ferramentas educacionais baseadas em IA pode ser proibitivo para
algumas escolas." - Fabian Westerheide, diretor de pesquisa da
FutureLearn
Sobre a
questão da privacidade e da proteção dos dados dos alunos:
"Precisamos ter cuidado para garantir
que a IA seja usada de forma ética e responsável na educação." - Yuval Noah Harari, historiador e filósofo
Apesar
das diversas questões ainda sem resposta, é possível perceber um otimismo geral
sobre o potencial da IA para a melhoria da educação.
Entretanto, é importante estarmos cientes dos
desafios e das considerações éticas envolvidos no uso da IA na educação.
O
terceiro vídeo
escolhido foi "The limits of learning – kids in crisis | DW Documentary”, publicado
em 10/05/2021, cerca de um mês depois de terminado o segundo confinamento
provocado pela Pandemia Covid-19. É da autoria de Axel Rowohlt, repórter
alemão. É publicado pelo canal de Youtube DW Documentary.
Traz uma visão mais crítica do impacto das novas
tecnologias na educação e mostra como o ensino online, durante a pandemia de
COVID-19, teve efeitos negativos nos alunos, nomeadamente o aumento do burnout
académico, do cansaço e da ansiedade.
Apresenta testemunhos de jovens estudantes,
residentes na Alemanha: Leandro, Anna, Philip e Catharina, os quais relatam a
sua experiência de ensino online durante os tempos pandémicos. O documentário
refere, também, os resultados de um estudo levado a cabo por estudantes em
Berlim para descobrir como os jovens viam o seu futuro. Os resultados são
claros, cerca de 75% dos estudantes estão ansiosos quanto às suas perspetivas
futuras.
O estudo revela, também, falta de exercício
físico, diminuição das capacidades visuais, excesso de tempo à frente dos ecrãs
e poucas horas de sono. Indica, ainda, que 77% dos inquiridos, moradores em
Berlim, não têm condições de estudo em casa. Assim, o ensino em casa teve, essencialmente,
efeitos negativos, de acordo com este estudo.
Este documentário é muito relevante para
percebermos os efeitos dos confinamentos e do ensino online nas crianças e
jovens. Remete para questões como burnout académico, cansaço, excesso de
trabalho, dificuldade em gerir o tempo e as tarefas, em cumprir prazos, em
tomar decisões. Refere, também, o excesso de responsabilidade dado às crianças,
o que as levou ao desânimo e ao cansaço.
A situação vivida pelo Leandro é
particularmente preocupante, um aluno tão jovem questionar a sua própria
existência é um sinal de alerta. É notório que o Leandro esteve à beira de um
esgotamento, sentindo-se impotente e perdido no meio de tantas tarefas a gerir.
Ele desmotivava só de pensar que tinha nove horas de aulas online no dia
seguinte. Outro aspeto negativo foi a falta de quebra ao longo do dia, a falta
do intervalo, da brincadeira e do convívio.
A situação dos irmãos Philip e Catharina também
remete para exigências incongruentes, pois pediu-se a jovens adolescentes que
agissem como adultos. Em muitas casas, os irmãos mais velhos foram obrigados a
orientar os mais novos, retirando-lhes tempo de estudo ou implicando uma
sobrecarga de trabalho ao fim do dia. Sendo o Philip muito novo, precisou da
ajuda quase constante da irmã mais velha, a qual viu a sua carga de trabalho
aumentar grandemente, pois também tinha as suas tarefas escolares para
realizar.
Obviamente, nem tudo foi negativo. Anna refere
que, no ensino online, não existem tantas distrações. Relata, também, que
permite a quem vive longe das escolas, ao não haver deslocações, de dormir mais
tempo. Quem se organiza facilmente e gosta de estudar sozinho, acabou por
sentir benefício com este tipo de ensino, considerando que lhes permite maior
concentração. O próprio desafio de terem de organizar o trabalho de forma
autónoma foi motivador para este tipo de alunos.
Volvidos cerca de três anos, e considerando o
forte desenvolvimento do EaD, este documentário obriga-nos a refletir sobre
diversos aspetos. Os testemunhos destas crianças, ao revelar um forte cansaço
devido ao ensino online, levam-nos a depreender que, se este tipo de ensino é
bastante adequado para o público adulto, poderá não se adaptar às crianças,
tendo em conta o seu baixo grau de autonomia.
No ensino online, o professor tem mais
dificuldades em saber se um aluno tem dúvidas, pelo que terá de encontrar
estratégias para tal. Deverá também encontrar um equilíbrio entre aquilo que os
alunos deverão realizar/estudar e o tempo livre deles, ou seja, deverá saber
solicitar trabalhos que garantam que o aluno terá o tempo de descanso
necessário para se manter saudável. Deverá ser compreensivo e tolerante, sem
deixar de ser exigente, de forma a que os alunos não cheguem a um ponto extremo,
como chegou o Leandro. Deverá aplicar metodologias interessantes e motivadoras
que façam com que o aluno adquira conhecimentos, sem sentir que lhe estão a
“encher a cabeça” até não poder mais com informações que deverá, depois,
“despejar” nos testes e exames, conforme refere o Leandro.
Este documentário, ao mostrar o lado negativo
do ensino online, leva-nos a refletir, permitindo, assim, que se chegue a um
modelo de ensino a distância benéfico para todos.
Conclusão
As novas tecnologias e a IA têm o potencial de
revolucionar a educação. No entanto, a introdução dessas tecnologias também
levanta desafios que precisam de ser considerados.
Para que sejam usadas de forma positiva na educação, é
importante a garantia do acesso a essas tecnologias a todos os alunos,
independentemente da sua situação socioeconómica.
Também relevante será providenciar formação eficaz aos
professores, para que se sintam à vontade ao usar as novas tecnologias, e desenvolver
políticas públicas que regulem o uso das novas tecnologias na educação.
Sobre a questão de o desenvolvimento das tecnologias
digitais ter facilitado a comunicação e a colaboração entre pessoas em todo o
mundo, acreditamos que tem promovido, sim, uma nova dimensão comunitária da
aprendizagem, que se integra com a noção de autoformação.
No entanto, é importante lembrar que a aprendizagem
não se resume à troca de informação. A aprendizagem também envolve a construção
de conhecimento e a formação de competências. Nesse sentido, o papel do
professor continua a ser fundamental para orientar e apoiar os alunos no
processo de aprendizagem.
Bibliografia
AI AND THE FUTURE OF EDUCATION (Full Documentary): https://www.youtube.com/watch?v=-d2VRgej_cY
Education 4.0 – transforming the future of education
(through advanced technology): https://www.youtube.com/watch?v=aVWHp8FsV1w&t=2s
Grant, J.
(2023). Inteligência artificial na educação: O potencial de revolucionar a
aprendizagem. Editora Senac.
The limits of learning – kids in crisis | DW
Documentary:
https://www.youtube.com/watch?v=8FKR35OidyU&t=1s
Imagem inicial site NOS
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